A corrupção do Estado
Com grande coragem Cravinho explica qual é o problema: o problema é o de que certos lobbies se apoderaram de “órgãos vitais de decisão” do Estado ou de departamentos que as preparam. Ou. Se quiserem, o de que o Estado se tornou o principal agente de corrupção.
Isto significa não que o Estado serve, não o interesse do país, como compreendido por este ou aquele partido, mas sim o interesse de lobbies com mais poder ou influência. E, no entanto, nunca se fala disto, embora toda a gente o saiba ou suspeite, a começar pelo presidente da República, porque os “negócios” conseguem inspirar um respeito e um temor que, por exemplo, o futebol não consegue e que manifestamente coíbem a imprensa e a televisão. O que se passa no interior de certos ministérios de que depende a orientação da economia nunca chega à rua. Como nunca chega à rua quem perdeu ou ganhou com os “projectos”, que o Estado autoriza ou financia. Ou quem é e donde vem o impecável pessoal que manda nisso tudo. Ainda anteontem o dr. Cavaco exigiu novas leis para assegurar o que ele chama a “transparência da vida pública”. Infelizmente novas leis não bastam.
Cravinho descreve o “choque” que sofreu com a complacência do PS perante a corrupção do Estado. Sofreria com certeza um “choque” igual, e talvez pior, no PSD. A verdade é que o “bloco central” se fundiu com o Estado. Não existe um Estado independente do “bloco central” e muito menos dos “negócios”, que o apoiam e sustentam: da banca e da energia, a quatro ou cinco escritórios de advogados. Cravinho, como Cavaco, não percebeu, ou preferiu omitir, que hoje não se trata de reformar uma parte inaceitável do regime, mas pura e simplesmente de mudar o regime. Se, por acaso caísse do céu a “transparência” que o dr. Cavaco deseja, metade da primorosa elite do nosso país marchava para a cadeia como um fuso.».
Vasco Pulido Valente, Público de hoje………………..
Adenda
Acerca destes assuntos tem andado o José da GL a escrever. Consultar: