Por Paul Krugman, Publicado em 24 de Julho de 2009 (Jornal i)
«(…)A economia dos Estados Unidos continua em maus lençóis, com um em cada seis trabalhadores desempregado ou subempregado. E contudo a Goldman Sachs acaba de anunciar um recorde de lucros referentes ao trimestre, e está a preparar-se para distribuir prémios enormes, quando comparados com os bónus que oferecia antes da crise.
(…)
As empresas financeiras, sabemo-lo agora, dirigiram vastos montantes de capital para a construção de casas invendáveis e de centros comerciais vazios, aumentaram o risco em vez de o reduzirem e concentraram-no em vez de o repartirem. Com efeito, o sector estava a vender banha da cobra a consumidores crédulos. O papel da Goldman na financialização dos EUA foi semelhante ao dos outros actores do drama, com uma excepção: a Goldman não acreditava na sua própria propaganda. Outros bancos houve que investiram a fundo no mesmíssimo lixo tóxico que vendiam ao grande público. A Goldman, notavelmente, ganhou muito dinheiro a vender activos apoiados por hipotecas subprime – e depois ganhou ainda muito mais dinheiro a vendê-los a descoberto antes que o respectivo valor caísse. Tudo isto era perfeitamente legal, mas a verdade é que a Goldman obteve lucros fazendo dos outros, todos nós, parvos. E a gente de Wall Street tinha todos os incentivos para continuar a jogar esse jogo.
Os enormes prémios que a Goldman se prepara para distribuir mostram que os grandes do sector financeiro continuam a funcionar ao abrigo de um sistema em que, se calhar coroas, eles ganham, se calhar caras, os outros perdem. Não vou tentar analisar as concorrentes asserções de quanta ajuda directa a Goldman recebeu por via dos recentes pacotes financeiros salvadores, especialmente a assunção pelo governo das responsabilidades do AIG.
(…)
Desta vez, as novas regulamentações estão ainda num estádio preliminar. E os grupos de pressão financeiros estão já a bater-se contra as protecções ao consumidor, mesmo contra as mais elementares.
Se esses esforços de lobbying tiverem êxito, temos o palco montado para um desastre financeiro ainda maior no futuro»