Anda o Joaquim muito atarefado à cata do bom espírito lusitano, que parece ter dado à sola, depois do ataque guerreiro quinhentista.
Pois bem, para uma problemática tão hegeliana, nada como remeter as jaquilinárias às suas origens carismáticas.
Aqui fica o testemunho de outro que também se transviou.
E pior, este nem precisou de ler Martin Page; bastou-lhe seguir a femme blanche.
{reposição da Janela Indiscreta}


Corria o ano de 1927, quando Paris recebeu o grande chefe Águia Guerreira, ex-combatente sioux e caçador de bisontes no Arizona.
Para nossa felicidade, quando já dava por perdido o furo jornalístico, o bravo chefe é acometido de uma inesperada solidariedade e brinda-o com a disputada entrevista.
Aqui ficam passagens destes momentos de glória e espanto do nosso repórter.
Comenta o jornalista:
“Águia Guerreira» chama-se também, perante o registo civil de cidadão americano, o senhor Malies. Que tristeza pensar que o pai do valente caçador de bisões se chamava «Garras de Falcão», e a mãe, «Luar da lua cheia»! Mas o americano é impiedosamente legalista e crismou o nosso amigo com um nome tão prosaico, como poderia ser entre nós, Fernandes, Sousa ou Soares”
A entrevista lá vai decorrendo num misto de francês “americanado” entre lusitano e moicano. Depois de discorrer acerca do exótico colar de dentes de bisonte do chefe guerreiro e este lhe ter explicado por mímica, acompanhada de punhal e gritos inquietantes, que os desdentados animais não ficaram para contar memórias, a consciência política do nosso jornalista desperta. Dispara-lhe então a pergunta fatal: — gosta dos americanos?…
— Gosto mais dos cães!!… — diz sombriamente o sioux com o desprezo a escorrer-lhe dos lábios.
Daqui em diante confirma-se como já na época a cultura europeia possuía um charme a que nem um rijo Pele Vermelha era capaz de resistir.
Diz o índio: Paris encanta-me, mas o porteiro do hotel, quando eu cheguei de madrugada, começou a gritar, de joelhos, que não lhe fizesse mal. Agora já é meu amigo!…
Prossegue o repórter — Começo a procurar um assunto palpitante e lembro-me do Texas Jack da minha infância, dos sacrifícios a Manitú ali descritos e vou falar de religião, da religião deles… Mas por uma espécie de telepatia, o Pele-Vermelha adianta-se ao meu desejo e diz:
— Não volto à América senão mais tarde, para festejar com a família um grande dia…um dia sagrado para mim… O do nascimento do Menino Jesus.
Caio das nuvens!… Então o selvagem fetichista…
— Veneramos muito este dia, como data alegre, assim como, no dia da ressurreição de N. S. Jesus Cristo estamos todo o dia de joelhos, sem tomar alimento… Já meu pai era fervente católico e meu avô também… Só o meu trisavô é que ainda adorava o sol, a lua, as estrelas… Nós não… o que não temos é igrejas. Realizamos as orações ao ar livre, sob as vistas do Senhor!… É melhor…
Estou perplexo e depois dum grande silêncio pergunto-lhe das suas viagens:
—Já dei umas três grandes voltas pela Europa. Conheço a Espanha, a Itália, a Checoslováquia, a Suíça, a Alemanha, a Bélgica, Bulgária, Suécia e Noruega. Agora estou em França. Gosto de Paris… e as parisienses são bem bonitas. De resto todos têm sido amigos para mim…
Acabara a entrevista. Lera-o nos olhos de Águia Guerreira, quando ele falara das parisienses. Era a hora da saída das empregadas dos armazéns…
Oh cinzas de Manitú, oh manes dos grandes chefes Mohicanos.”
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Ilustração Portuguesa, 2º Ano, nº45, Novembro, 1927.
sorry, tirei o haloscan. Vou copiar os comentários
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Delicioso, delicioso, ser á que tb conduzia um ford t e investia na bolsa?
dlm | 07.08.08 – 2:48 pm | #
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É mesmo muito lindo.
Esta treta do haloscan é que é cretina. Tudo por causa do papagaio nonó.
Agora está o dlm na calha e não se vê.
zazie | Homepage | 07.08.08 – 11:44 pm | #
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Sorry dlm, ficou maluca a resposta. Pensei que estava a comentar o Joselito cristiano e gay
“:O)))
zazie | Homepage | 07.08.08 – 11:51 pm | #
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