and now for something completely different…

Crescer com “o Álvaro”
Cresci com este mistério e só mais tarde, já em Lisboa, me explicaram. É difícil reconstituir o fervor com que se falava do “partido” e do “Álvaro”. Pelo que me disseram, fiquei a imaginar que existia em Portugal uma legião de justos que lutavam e sofriam pelo povo e, acima deles, muito acima, um mártir, “o Álvaro”, algures numa cela incandescente
1Morreu ontem, esquecido e trivializado, Álvaro Cunhal. A gente que o demonizava, e com toda a razão, em 1975, há quinze anos que lhe tinha perdido o medo e o respeito. A partir de 1990, o Partido Comunista passou a ser um resto, quase um monumento, na Assembleia da República; e a insistência no “marxismo-leninismo”, tal como o definia a União Soviética, começou a criar ao “homem que não mudava” uma aura de fidelidade e “nobreza”, que era sobretudo um protesto contra o oportunismo corrente. Apareceu então um novo Cunhal. O Cunhal que a esquerda ignorava e que a direita, uma certa direita, tratava com o desprezo amável normalmente reservado a “inferiores”: o Cunhal da impotência. Em 1991, segui a última campanha dele e percebi com espanto que também o “partido” o queria proteger do abandono e da tristeza: no fundo, da realidade. No Seixal, por exemplo, uma senhora com o seu melhor vestido e um penteado de cabeleireiro, tremia com a hipótese de uma mau resultado: um mau resultado “dava ao Álvaro um enorme desgosto”. Depois disso, “o Álvaro”, velho e doente, deixou de se mostrar em público. Pouco a pouco, a ausência fez dele, ainda vivo, uma figura histórica. Pior: uma parte curiosa e comercial do folclore indígena. O Até Amanhã, Camaradas! da SIC, por exemplo, asséptico e politicamente inócuo, com um terrível “bom gosto” de “estilista”, transformou a grande epopeia do PC numa aventura sem significado, relevância ou grandeza. Se Cunhal a viu, e com certeza que não viu, deve ter chorado sobre aquele epitáfio.
Em 1949 ou 50, quando pela primeira vez me falaram dele com emoção ou, mais precisamente, com devoção, “o Álvaro” estava preso. Tanto o meu pai como a minha mãe o conheciam. A minha mãe trabalhara com ele no obrigatório inquérito a um “bairro de lata”, com que na altura o progressismo (mesmo católico) iniciava os seus prosélitos. O meu pai durante um tempo recebera e distribuíra dinheiro do “partido” (um exercício particularmente perigoso). Quando o meu pai foi dirigir uma “fábrica” de catorze operários numa aldeia ao pé do Porto, ia às vezes buscar umas pessoas, que entravam lá em a casa à noite, não comiam à mesa e nunca saíam do quarto. Um casal, constituído, como depois vim a saber, por um marinheiro bêbado (um “arsenalista”) e por uma “companheira que ele espancava”, chegou a alertar a vizinhança. Por mim, sem perceber nada (nem sequer o suficiente para perguntar) percebia pelo menos que a presença destes visitantes pesava. De medo, suponho hoje. Cresci com este mistério e só mais tarde, já em Lisboa, me explicaram. É difícil reconstituir o fervor com que se falava do “partido” e do “Álvaro”. Pelo que me disseram, fiquei a imaginar que existia em Portugal uma legião de justos que lutavam e sofriam pelo povo e, acima deles, muito acima, um mártir, “o Álvaro”, algures numa cela incandescente.
O nome, “o Álvaro”, exigia sempre um tom litúrgico. O que me contaram sobre ele roçava a hagiografia: o sacrifício, a traição, a tortura, a cela de Peniche. E também a inteligência, o talento, a coragem, a entrega ao “partido” e, através do “partido”, ao proletariado e à felicidade humana. Isto impressionava, até por ser absolutamente sincero. Além disso, o mundo do PC e dos “companheiros de caminho” era um mundo fechado. Os meus pais não tinham amigos fora dele, coisa que de resto o “controleiro” proibia, e, se por acaso arranjavam algum, o “controleiro” mandava logo “cortar”. Os livros que eles liam, e que naturalmente também li, vinham todos da lista aprovada pela ortodoxia estalinista: Gorki, claro, Sholokhov, Jorge Amado, Panait Istrati, Steinbeck (As Vinhas da Ira), Dos Passos, Martin du Gard, Romain Rolland, Malraux (A Condição Humana), Aragon, Éluard, Neruda. E também a tralha do costume: romancistas do Azerbaijão, italianos ignotos, pacifistas (Barbusse, por exemplo), a colecção Cosmos (completa), a Vértice, propaganda sobre a guerra de Espanha ou sobre os julgamentos de Moscovo (um enorme calhamaço com um título inesquecível: A Grande Conspiração contra a Paz) e o inevitável opus de Sidney e Beatrice Webb O Comunismo Ssoviético: uma nova civilização. Portugueses, que me lembre, poucos: Soeiro, Redol, Gomes Ferreira. Suspeito que raramente uma criança foi educada com tão má literatura e tanta mentira.

O “partido” exigia aos “militantes” uma “vida modesta” e virtuosa. Era o tempo em que o Avante!, para exibir o precipício moral dos “dissidentes”, contava que eles frequentavam o Casino do Estoril de charuto na boca, com as mulheres “cobertas de jóias”, e acabavam a noite em “deboches” por “palácios de banqueiros”. Não se conseguia imaginar depravação maior. Os comunistas, por contraste deviam pelo menos simbolicamente partilhar a miséria do “povo”. Os meus pais gastavam, de facto, muito pouco dinheiro. Quase não saíam, nunca viajavam, usavam a roupa até ao extremo da decência. Ao princípio, por necessidade. Mas, depois, por escolha, por uma espécie de penitência ou de pedantismo, que, de resto, me faziam notar e me obrigaram eventualmente a seguir. Muitas vezes ouvi de amigos deles: “Os teus pais vivem com muito menos do que podem.” Um exemplo que me criava obrigações.
Esta superioridade dos comunistas incluía os costumes. O ateísmo e a defesa do divórcio não impediam os meus pais de “cortar” com os “militantes” que se divorciavam e de se agitarem com horror à mais vaga suspeita de adultério. As mulheres que se “portavam mal” inspiravam um grande falatório e sessões de crítica em que se discutiam os sinais da queda: normalmente excessos de bâton e pó-de-arroz, vestidos, chapéus, sapatos de salto alto ou casacos de peles, quando o caso não chegava ao cúmulo das jóias, que se aproximava da traição. Aqui, como no resto, o “partido” precisava de uma disciplina dura e de segregar aqueles que por qualquer razão o punham em risco, fazendo entrar nele a desordem e as tentações da “burguesia”, ou seja, de uma existência vagamente normal.
O próprio “partido” organizava os prazeres “puros” dos fiéis. Passeios no Tejo, para adultos; e piqueniques com as crianças, em que se cantava o “Não fiques para trás, ó companheiro…” e o “Terra pátria, serás nossa…” do Cancioneiro Popular Português de Lopes-Graça. Irregularmente, havia também sessões (vigiadas pela PIDE) da Associação Feminina Portuguesa para a Paz, de que a minha mãe era presidente, com coro da Academia dos Amadores de Música (do fatal Lopes-Graça) e atracções várias, como o poema de Sidónio Muralha Grilos, Grilinhos e Grilões, recitado por mim. Mas, sobretudo, os meus pais reuniam-se uma vez por semana com meia-dúzia de amigos para falar de arte e de política, sob a direcção informal de um “camarada mais ligado” (ligado com o “controleiro”). Aí ficavam a saber o que lhes convinha e, literalmente, tiravam dúvidas.
Este edifício da “legalidade” servia essencialmente para sustentar o edifício da “clandestinidade”. Os meus pais tinham “tarefas”. Já disse que o meu pai recebia e distribuía dinheiro do “partido” e, com o carro da empresa, transportava também “funcionários” de um lado para o outro, durante a noite, com “contactos” duvidosos que muitas vezes falhavam e o deixavam abatido e nervoso. Anos mais tarde, acabou por me descrever essa espécie de “encontros” no meio de sítio nenhum (num cruzamento de estradas, no quilómetro x da estrada y) com gente que raramente conhecia e que largava depois, sem quase uma palavra, num descampado igual. Apesar do medo, o que o impressionava era a insuportável tristeza daquelas viagens da desolação para a desolação.
A principal tarefa da minha mãe era à superfície mais simpática. Levava ao médico filhos de “funcionários”, como se fossem dela, ou levava aos “funcionários” um médico “amigo”, ou seja, cúmplice ou “companheiro de caminho”. Os conhecimentos do pai (o meu avô Pulido Valente) simplificavam as coisas. Mas, numa crise, e principalmente com crianças não eram poucas, começavam as complicações: telefonemas, correrias, visitas sem aviso, que iam inevitavelmente contra as regras de segurança e provocavam inquietações. Felizmente, aquele “ponto de apoio” durou anos sem acidente de maior. Para mim, foi uma iniciação e, como o resto, deixou um (péssimo) vinco.

Entretanto, o mundo ia mudando. Lá fora a grande esperança revolucionária morria em França e em Itália e a direita expulsava os comunistas do poder. Na Alemanha ocupada, a América resistia à URSS e conseguia transformar a Tri-Zona num Estado democrático, a República Federal. As potências do Ocidente não tocavam em Franco e Salazar e criavam a NATO. Cá dentro, depois da febre do MUD, do MUD juvenil e da campanha presidencial de Norton de Matos, a oposição caía na sua habitual tristeza. Mesmo dentro da oposição, a eterna estratégia do “partido” de monopolizar e dominar tudo tinha deixado ressentimentos, que não passariam tão cedo. Mais grave do que isso, com a relativa normalidade do pós-guerra, começou a chegar, ou a ser finalmente ouvida, alguma evidência séria sobre o “campo comunista”. Na estante do meu pai apareceram Victor Serge, Koestler e o velho Retour de l”URSS de Gide. Kravchenko, se causou um escândalo, também causou um abalo. Mas, principalmente, e porque se tratava da família de que se tratava, o apoio oficial de Estaline à “teoria” biológica de Lyssenko fez perceber para que extremos podia deslizar a ortodoxia: segundo me contaram, o meu avô Pulido, que era professor de Medicina, disse o que devia com a devida brutalidade.
Os meus pais não romperam abruptamente com o partido. Como costumava suceder, o “afastamento” (uma palavra típica da Igreja) foi gradual. Tiveram as suas querelas políticas com o “controleiro” e discutiram com emissários da clandestinidade questões doutrinais. Cândida Ventura, por exemplo, ficava noites, se não a explicar, a justificar os desvarios da seita. Enquanto ela fumava cigarros russos (palavra de honra), a incomodidade dos meus pais crescia. Pouco a pouco, entraram num pequeno círculo de cépticos, que desconfiava da obediência estrita à “linha do partido”. E, com o tempo, atrás da desconfiança veio o desprezo. Os santificados militantes da véspera desceram ao estatuto (aliás, realista) de gente ignorante e fanática; e os comunistas da legalidade, que fielmente seguiam a “orientação correcta”, receberam o nome irrisório de “batatulinas” (suponho que por analogia com “batatudo”, isto é, grosso, arredondado, em suma, estúpido).
Embora preso, “o Álvaro”, como herói, morreu de facto nessa época e foi enterrado com as revelações de Khrushchev ao XX Congresso do Partido Comunista Russo, que apareceram logo lá em casa, em tradução francesa. Não se falava dele e, quando se falava, era para o lamentar. A fuga de Peniche e o Rumo à Vitória pertenceram já à história de Cunhal. O meu pai ainda leu (na “edição” da clandestinidade) o Rumo à Vitória, que declarou um “disparate”. A minha mãe nem isso.
Houve, no entanto, uma despedida. A minha mãe foi ao aeroporto ver “o Álvaro”, quando ele voltou a Portugal depois do “25 de Abril” e achou, não sei porquê, que ele estava mais magro.

VPV, 13-6-05. Público

31 comments on “and now for something completely different…”

  1. josé says:

    Saiu no JN e passei-o para a Loja.
    Fica aqui:

    [Jornal de Notícias] Qual é a recordação que o professor Emídio Guerreiro tem de Álvaro Cunhal?

    [Emídio Guerreiro] Conheci-o, pessoalmente, bastante tarde, já quase no fim do meu exílio (de 42 anos, durante o Estado Novo), alguns anos antes do 25 de Abril de 1974. Conheci-o em Argel, no momento da Terceira Conferência da Frente Patriótica de Libertação Nacional. Desde daí, na verdade, não tive mais relações nenhumas com Cunhal. A não ser políticas, visto que ele era chefe de um partido e eu de outro (Secretário-Geral do PPD). Foram relações entre políticos, pautadas por um tom institucional para evitar atritos entre as duas formações.

    JN- Como político, que importância atribui ao papel que ele desempenhou?

    EG- Álvaro Cunhal foi um estalinista e morreu estalinista. Temos de lhe fazer justiça. Foi um homem que nunca mudou de ideias. Enaltece-lhe a coerência, como muita gente… Essa coerência, para mim, é uma catástrofe. O facto de ser coerente com um bandido como era o Estaline não beneficia nada a personalidade do Cunhal. Isso pode ser sinal de fundamentalismo.

    JN- Fala-se muito, agora que Cunhal morreu, se ele terá sido um vencedor ou um perdedor no tabuleiro da política nacional e até internacional.

    EG-Foi um perdedor, sem qualquer dúvida. Teve que se exilar e esteve preso. Esteve ao serviço da União Soviética até ao 25 de Abril e depois continuou, como estalinista, a servir a lógica da URSS. Isso não quer dizer que eu não tenha uma grande, ou melhor, uma certa consideração pelo papel político do Álvaro Cunhal.

    JN- Ele foi responsável por organizar um partido que veio da clandestinidade.

    EG- Julguei, quando vim para Portugal, a seguir ao 25 de Abril, que ia encontrar um partido comunista organizado, com estruturas. Não, não havia partido comunista. Havia, sim, meia dúzia de pessoas que se sacrificaram, no partido, que sacrificaram até a vida, mas o grande PC, que eu julguei que existia em Portugal, não existia. A mim, interessa-me o aspecto geral da política portuguesa. O que é que o ele (PCP) fez na política portuguesa. Eu estava convencido, como lhe disse, que grande parte das pessoas, pelo menos a classe trabalhadora, fazia parte do PCP.

    JN – Não reconhece o papel do PCP, por exemplo, na defesa dos trabalhadores?

    EG – É claro que o PCP teve e tem o seu programa político e social, tem lugar na política portuguesa. Mas esteve sempre muito confundido. E muito à imagem do Cunhal. Mesmo depois de ele ter deixado de exercer funções no PCP, creio que os continuadores não deixavam de o consultar, para saberem a sua opinião e até para certas decisões.

    JN – Acha que foi uma figura marcante do século XX?

    EG – Foi uma figura marcante em Portugal. E nada mais. A meu ver.

  2. zazie says:

    Viva José! onde é que saiu a entrevista ao Emídio Guerreiro?

    ……………

    Pois é MP-S. apetece mesmo…

  3. MP-S says:

    Harry Lime, fizeste-me ter vontade de ir reler a Balada!

  4. josé says:

    Perdi a discussão…pus-me a blasfemar em sítio errado e o timing passou!

    Recomendo a leitura da entrevista a Emídio Guerreiro. Sintetiza tudo o que posso dizer sobre o Cunhal e o comunismo.
    Brilhante, simplesmente, um indivíduo com 105 anos a falar assim. Nem o Oliveira tem tanta lucidez.

  5. Ahab says:

    Gostei muito de ler os comentários a esta posta.

    Em relação à vida na clandestinidade há uma fonte que eu aprecio: “A Balada da Praia dos Cães”. Já falei nisto mas penso que é um romance que responde a muitas das questões que aqui se puseram: como é que era clandestinidade? quais as suas exigencias? O que é que fazia as pessoas correr? O que é que fazia as pessoas manter a fé (às vezes eram mentiras…)

    O arigo do VPV não responde a tudo isto mas eu acredito que o José Cardoso Pires (de quem o VPV é fã) responde a algumas destas questões.

  6. dragão says:

    Atenção, ó Zazie, nada de invocar o meu infame nome em vão!…
    Não brinques com o Diabo que ele ainda aparece… :O)

    Diabo Vicentino, entenda-se.

  7. zazie says:

    “por exemplo, muito do puritanismo dependia da própria clandestinidade”-

    Não. Não era apenas isso. Era a ideia da superioridade da moral proletária. E valia tanto para o PCP como para os outros partidos dissidentes, até entre os estudantes. Tanto fazia que o exemplo viesse da Rússia como da China- a velha moral puritana que proibia decotes, que obrigava a camarada solteira a usar aliança quando passava a propaganda às massas, etc, etc, sempre foi assim, em todo o lado. Há até casos históricos já depois do 25 de Abril que vieram parar aos jornais. Mas não vou agora falar disso. As pessoas ainda andam por aí.

    Quanto ao resto ele não fala em fazerem ou não fazerem alternativa. Ele limitou-se a mostrar o retrato mais fiel. Se conhecesses os seus textos sabias como também analisa o resto.
    Porque quer-me parecer que vocês não se querem dar conta de como este texto é magnífico apenas por preconceitos ideológicos.
    Só que o trabalho de um historiador não consiste (ou não deve consistir) em alimentar ideologias. E o VPV acima de tudo é um grande historiador.

  8. MP-S says:

    Nao, a questao nao e’ ele falsificar a historia. Sao apenas pequenos detalhes.
    Por exemplo, muito do puritanismo resulta da propria estrutura da clandestinidade. As pessoas dependem muito umas das outras para subsistir naquele meio isolado, em estao sempre em risco de ir dentro e ser torturadas. Julgo isso da’ origem a uma necessidade de controlar os “devaneios” dos camaradas – num contexto muito diferente da nossa vida actual (dai tambem a minha brincadeira do aburguesado 🙂 ). Depois, e’ verdade que ‘a medida que as noticias de Krustschev, da Hungria 56, etc. foram sendo conhecidas, eles nao foram capazes de fazer a critica ao sistema sovietico – e esta critica cai que nem uma luva aos Sartres -, mas falta explicar o que e’ que naquele contexto clandestino, no Portugal salazarista, em que o PC era a unica organizacao que resistia, aquelas pessoas poderiam ter feito em alternativa. Claro que um artigo de jornal nao da’ espaco para tudo, so’ que os tipos espertos como o VPV teem estas desvantagens: uma pessoa esta’ sempre a exigir que eles facam melhor. Qto. ‘a minha opiniao do VPV: nao e’ dos meus favoritos, mas reconheco-lhe a virtude de muitas vezes ser “to the point”.

  9. zazie says:

    á, e é claro que houve várias tentativas de golpe de Estado. A ideia sempre foi essa. E o caso do Norton de Matos e do Humberto Delgado foram muito fortes.

  10. zazie says:

    Lutz,

    Muitas vezes não estou de acordo com o VPV que poderá ter muitos defeitos mas a previsibilidade não é um deles.

    Quanto à resistência é uma boa pergunta mas dava um testamento. De qualquer forma não terá sido muito diferente do que são todas as resistências em sistema ditatorial. Simplesmente isto por cá também era sui generis…
    e havia de todo o tipo. Mas creio que o principal dizia sempre respeito à protecção da “máquina panfletária”. Quer no PCP quer nos dissidentes.
    Depois havia variantes para todos os géneros, idades e classes sociais. O PCP foi de facto o único com com ligação popular. Mas eu do PCP pouco sei, para além de algumas memórias de infância um tanto parecidas com as dele. E que envolviam Àfrica e crimes de guerra. E havia sempre um parente ou amigo de família metido nessas coisas. Mas depois havia muito mais coisas semi-clandestinas e aí o melhor é seguir os estudos publicados.

  11. zazie says:

    Peço desculpa porque não tinha lido o post do José na GL. O José tem aquele código de honra que está sempre para além da banalidade.

  12. Lutz says:

    Gostei muito deste texto do VPV, de quem de resto não gosto particularmente, não por ser cínico, mas por ser previsível. (Falo das crónicas no Público: é o que lhe conheço.)
    Para mim, este texto é pedagógico. Agora uma pergunta de ignorante, a quem talvez sabe: E que consistia exactamente a resistência? Na preparação dum golpe de estado, na agitação das massas proletárias, na distribuição de panfletos?
    Não estou a gozar com os resistentes, não sei mesmo e queria saber!

  13. zazie says:

    Agora o que sou capaz de achar é vazias e um tanto balofitas as críticas que lhe fazem. Só vejo que agarraram mais um pretexto para psicanalisar um gajo de que não gostam.
    Ok. Mas falem do conteúdo sff..

    (e estou para aqui a gastar o meu latim a ver se é desta que sempre consigo voltar a andar à porrada com o nosso amigo Dragão
    ehehehe)

  14. zazie says:

    Quanto ao porque é que raio eram assim, ele também já escreveu. E não imagino que a propósito da morte do Cunhal isso tudo fosse mais importante ou possível num simples artigo de jornal.

    Eu acho o texto magnífico. E não digo isto de mais nenhum que até agora tenha lido. Nem tinha comentado sequer em nenhum blogue porque não encontrei um único texto pertinente

  15. zazie says:

    MP-S,

    Podes desenvolver?

    Queres dizer que falsifica a história?

  16. MP-S says:

    O aburguesado e’ ironico… 🙂 e ele apanhou bem o “ambiente” do PC. So’ que eu achei que teria sido ainda melhor se tivesse apanhado melhor a “psicologia”. Porque e’ que raio aquela gente era assim, porque e’ que tinham aqueles “tiques”? Etc.

    Quanto ‘a “pedagogia” – e’ verdade, ele nao tem nenhuma obrigacao, e mais vale nao a fazer do que andar a indotrinar.

  17. zazie says:

    quanto à pedagogia para a “malta mais nova” não percebo a que vem ao caso. O VPV não é delegado pedagógico para a juventude, que eu saiba. Pedagogos desses é o que mais há. Até na blogosfera. E para todos os gostos: acidentais para uns, barnabeicos para outros- “boa” informação doutrinária é que não falta…

  18. zazie says:

    Excelente comparação com a Balada, Harry. É isso mesmo. Achei este texto do VPV dos mais desassombrados que escreveu nos últimos tempos. E conheço essas memórias dos Esteiros. Por isso fico sempre admirada com certas reacções. Ou as pessoas nunca leram o VPV, ou não conhecem a nossa História. Ou, pior do que isso, projectam no VPV as suas próprias frustrações ideológicas (passo o lado freudiano da questão que tanto me irrita). Porque o VPV não é um político. É apenas um bom escriba que sabe usar a pena para avivar memórias e enterrar mitos.

    MP-S,

    Não percebi porque é que ele está aburguesado ou não se lembra da pasmaceira. Lembra-se de tal forma que não embandeira em arco porque sabe muito bem que essa miseriazinha continua

  19. MP-S says:

    Zazie, belo blogue!

    Quanto ao texto do VPV, eu reconheco algumas das coisas que ele descreve. Conheci varias pessoas do
    PCP nos anos 80 – a pureza do ‘Alvaro’, o puritanismo,….

    Mas uma coisa o VPV se esquece de mencionar: o contexto da clandestinidade. Talvez a malta mais nova perca o contexto e nao tenha presente os riscos que aquela gente passava todos os dias: a PIDE. Enfim, o VPV esta’ aburguesado e ele, se calhar, tambem ja’ nao se lembra como era a pasmaceira do Portugal salazarento – a miseria sob todos os aspectos (cultural tambem!).

  20. Ahab says:

    Passei pela formiga bargante e decidi deixar lá um comentário a chamar parvalhão ao gajo.

    Foi um impulso um bocado baixo do qual não me arrependo.

    Aquilo é psiquiatria de pacotilha no seu pior, daquela de que os portugueses tanto gostam.

  21. Ahab says:

    By the way, peço desculpas pelo alto teor de gralhas no meu comentário anterior.

    Outro aspecto, que me intriga nalguns dos comentário que aqui li é o facto das pessoas atribuirem significados “freudianos” a este artigo do VPV.

    O VPV já escreveu coisas muito boas acerca da sua infancia. Há um artigo muito bonito acerca “Deles e De Nós” a propósito dos “Esteiros” do Soeiro Pereira Gomes em que ele fala do lado “luminoso” (nomeadamante do sentido de justiça que lhe incutiu) desta vida que ele aqui descreve nos aspectos mais sombrios.

  22. Ahab says:

    Boa noite, zazie

    Passei o fim de semana fora do mundo e por isso só agora (aqui, no blog da zazie!) é que li este texto do VPV.

    Na minha opinião, dizer que este texto é cínico é o mesmo que dizer que a “Balada da Praia dos Cães” do Cardoso Pires é cinico.

    O que o VPV tenta fazer neste texto é algo que muito pouca gente tentou até hoje: dar uma descrição realista do que era a verdade da vida da clandestinadade. A tristeza, as limitações, os medos, as ansiedades e as frustrações. E no fim a descoberta de que nada daquilo fazia sentido. Que as conspirações que se faziam ou eram ilusões ou, pior ainda, pretendiam instalar um “status quo” tão mau ou pior que o actual. O texto fala da frustração de pessoas boas, generosas e esforçadas que dão o seu melhor por uma causa (personificada na pessoa do “alvaro”) que não os mereciam.

    O ponto de contacto que eu encontro entre este texto (VPV “vintage”) e a “Balada da Praia…” tem a ver com a descrição desta vida e da sua flata de horizontes. O Jose Cardoso Pires agarra num caso real com contornos policiais e dá-nos uma descrição da sordidez daquele Portugal e daquela calndestinidade sem objectivos e sem horizontes.

    É tambem este o tema do texto do VPV, que está entre o melhor que ele já escreveu (acho que já escrevi isto mas pronto).

  23. zazie says:

    Olha, nem de propósito. O bacano do Memória (http://memoria-inventada.weblog.com.pt/) também diz que a psicanálise morreu por serem poucas as pessoas com vidas interessantes

    “:O)))

  24. zazie says:

    Ups! O diabo do template desconfigurou…só coisas que me apoquentam, como diria o Animal…

    Bem, voltando ao VPV- mas tu nunca leste textos em que ele fala da infância? Até tem coisas bem mais fortes…

    Só não percebo onde é que vocês vêem aqui amargura familiar. Ele limitou-se a fazer um bom retrato desse mundo da militância e dos controleiros e moral proletária e orientações de vida. É mentira? É um retrato falso? Não, é verdadeiro até ao paroxismo!

    Que esse mundo foi assim e teve o seu sentido e o seu tempo já ele o disse muitas vezes. E sempre respeitou esses órfãos, essa gente que teve a sua verdade e foi ultrapassada pela história.
    Isto é ser-se realista e historiador. Vocês preferem os ideólogos que continuam agarrados ao passado? Ou preferem os outros complexados ideológicos que nem conseguem entender que esse passado é também grande parte da história do nosso país?

  25. timshel says:

    Repara, o texto não é particularmente cínico mas explica muito do cínismo do VPV. Este texto exala tristeza e agressividade para com o seu passado infantil.

    Éstarei de acordo contigo que nunca devemos julgar a bondade de uam ideia pela história pessoal da pessoa que tem essa ideia.

    Mas quando o azedume e o cepticismo representa pelo menso 90% do que a pessoa pensa e escreve (por mais bem escrito que seja e isso eu não contesto) dá para pensar.

  26. zazie says:

    e a mim também. Nestas coisas políticas também não reviro os olhinhos “:O))

    daí o tal cinismo, como tu lhe chamas…

    pois, há-de ser muita coisa mas
    utopias mesmo só as da cocanha medieval
    ehehe

  27. zazie says:

    Li o texto da formiga e com todo o respeito acho-o totalmente idiota.
    Os pais eram comunas, ele ajusta contas com o passado? Está tontinha a mocinha. Como se o VPV tivesse algum passado que o apoquentasse. Ele sempre foi bruto como o avô.
    E onde é que está a contradição? Não tivemos todos um pai e uma mãe? Ehehe e não são uns de uma maneira porque beberam dessa cartilha desde a infância? E outros de outra por motivos paralelos ou opostos?
    E como é que queria essa formiga que uma pessoa fosse? Criada do nada? Filha do padeiro? Só para fugir ao édipo?
    Ó, pá, eu cá não tenho pachorra para essa mania da devassa chamada psicanálise. Até já está fora de moda.
    A coisa é mais básica. Com o VPV ou se gosta ou se odeia. Não deve existir pessoa que provoque mais ódios de estimação. À esquerda, à direita, a torto e a direito. E cá para mim é por isso mesmo. Não o conseguem agarrar. E incomoda sempre um gajo que sentimos que não é dos nossos mas que também não tem o formato bem definido que deve ter um inimigo.
    Não é?
    Não que não é…
    E depois chamem-lhe cínico… falta-lhe a tal tendência para revirar os olhos em alvo…

  28. zazie says:

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  29. zazie says:

    já vou espreitar esse formiga, Tim.

    Pois eu pura não serei e muito menos mole “;O))

    Bjs CBS!

    mas considero este texto excelente. E não imagino o que tenha de cínico. Foi o melhor que li sobre o assunto.
    Tens ideia de outro, tim?

  30. cbs says:

    Ando distraído.
    Não tinha lido isto.

    Os meus respeitos Zazie, obrigado pela “posta”.
    É por coisas destas que consigo aturar a raiva ao VPV.

  31. timshel says:

    Zazie

    Aconselho-te o formiga bargante

    http://formigabargante.blogspot.com/

    Não sei se ele deva ir ao psiquiatra. Senão ainda me chamam estalinista (ou pelo menso brejneviano). Mas, voltando ao tema do cinismo (que, como sabes, é um tema que me fascina), seria interessante saber as variáveis ambientais que produzem um cínico.

    PS.: Pensei em não fazer este PS. mas para evitar mal-entendidos declaro desde já que não te considero uma “cínica” (pelo menos uma cínica pura e dura :lol:)

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