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A mata-cavalos, o Dragão tratou da saudinha aos vendedores ambulantes de propaganda científica

«Compreendo agora, graças a si, que desconhecer a explicação ocasiona o inexplicável. Eu, estupidamente, a julgar que a explicação traduzia um conhecimento de qualquer coisa, quando afinal é o conhecimento duma explicação. Ah, assim é mais fácil, mais simples e, convenhamos, bem mais lógico. É tudo, como tudo na vida, uma questão de contactos. Arranja-se alguém que nos apresente uma explicação e já está. “Dragão, esta é a explicação do Big-Bang!”; “Explicação do Big-Bang”, este é o Dragão”. E pronto, liberta-se um gajo do inexplicável. Conhece-se uma boa explicação e fica debelada a angústia. É o “Abre-te Cézamo” da gnoseo-ascensão.
Eu também julgava -mais uma vez nesciamente – que se havia coisa que não atormentava os crentes era embaraços. Nem embaraços, nem dúvidas, nem nenhum desses agentes malignos do inexplicável. E precisamente porque, segundo eles, conhecem uma explicação completa – a explicação da Criação. Ou do Big-Bang. Conhecem-na é pouco: são amigos íntimos, coleguinhas de infância, compadres. Aqui há tempos, bateram-me até à porta umas tais Testemunhas de Jeová. Não me pareceram nada embaraçadas, devo dizer. Pelo contrário, com uma agilidade incrível, queriam explicar-me tudo. O passado, o presente, o futuro, em resumo, o inexplicável de fio a pavio. Não escapava nada. Tudo muito bem trituradinho e passevitado. Entendiam, por força e capricho missioneiro, apresentar-me a toda uma avassaladora explicação. Pretendiam, se bem as entendi, pejadas de boa intenção, salvar-me. A trabalheira que eu tive para me livrar delas. O que só alcancei, por fim, perdendo as estribeiras (convenhamos, comigo não é difícil) e rugindo-lhes ferozmente: “caralho, madames, não me dêem cabo do suspense desta merda, não me expliquem o filme todo. Assim perde a piada!…”
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