candelárias
Os romanos festejavam as luzes com o aspergilium das velas que anunciavam a Primavera. O mundo católico recorda a dádiva em nome da purificação da Senhora das Candeias (Se a Senhora das Candeias rir, está o inverno para vir. Se a Senhora das Candeias chora, está o inverno fora), bem presente em muitas festas e procissões do nosso país, a que o jacobinismo travestido de suposto laicismo ainda não conseguiu deitar mão.
Mas é também o dia em que o urso acorda da longa hibernação ditando as mesmas sortes para a natureza.
No entanto, o urso não se limitava a acordar e a dizer o boletim meteorológico. Estava-lhe também confinado o sacrifício exorcizador das forças das trevas. Daí a passagem para as lendas do encontro do diabo verde (selvagem e silvestre) com o cavaleiro e a pele do urso que o vai tornar cativo. O estatuto era tão ambíguo quanto a sorte das irmãs da princesa que dele se apaixona e que Grimm recompilou no conto, ou que, numa versão mais recente, fez do Tom Waits o urso dançarino em versão cinéfila de lenda urbana e a cantar o Singapore.
Mas é também o dia em que o urso acorda da longa hibernação ditando as mesmas sortes para a natureza.
No entanto, o urso não se limitava a acordar e a dizer o boletim meteorológico. Estava-lhe também confinado o sacrifício exorcizador das forças das trevas. Daí a passagem para as lendas do encontro do diabo verde (selvagem e silvestre) com o cavaleiro e a pele do urso que o vai tornar cativo. O estatuto era tão ambíguo quanto a sorte das irmãs da princesa que dele se apaixona e que Grimm recompilou no conto, ou que, numa versão mais recente, fez do Tom Waits o urso dançarino em versão cinéfila de lenda urbana e a cantar o Singapore.
O viajante que se embrenha na floresta, acaba por se tornar selvagem, cabendo-lhe o destino de guardar a veste do Príncipe do Mundo/Diabo Verde/Pele de Urso. Com o destino cativo das mãos das tesouras, recebe a beleza, riqueza e amor e morte principescos, em troca do pacto com o demo.
Nunca se sabe o que um urso pode anunciar quando acorda- tanto pode vir a alegria da Primavera como o enfado melancólico- e voltar a hibernar para prolongar o Inverno do nosso descontentamento.
Para os espíritos mais sensíves, que não suportam estas “superstições obscurantistas”, resta sempre o calendário alternativo e laico da caixinha dos milagres – Hoje há o “Preço Certo” e passa mais um episódio da novela “Deixa-me Amar”.
17 comments on “candelárias”
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tá bom,
fartava-me de rir com aquela foto dos javalis, mas fica para um dia
beijo
Obrigada, rapaz. Deve ser problema do meu zé grandão porque está a demorar a abrir.
Era só para confirmar se davas com os videos e se isto abria bem.
Os javalis andam a javardar nos bastidores. Agora é a vez do nasin saltitão brincar.
Tenho de deixar um pequenino post acerca dele. É das histórias mais iconoclastas, surrealistas e poéticas da ciência.
bisou
portanto, a tua página abre logo, e depois fui ali ao lado e vi o vídeo do tropa e da rapariga, e mais um ou outro de raspão. Mas eu não sou nada cusca, o que tu queres que eu cusque?
onde está aquela foto gira dos javalis?
a página abre logo instantânea
agora ali ao lado só vou ver amanhã que já tou meio-ko
mas eu sou um nabo em problemas técnicos destes, farejo é bem, e agora tenho um computador amigo que faz tudo
Sabia pois, estava de férias numa praia ao lado.
Esquece, não te coloquei etiquetas, ou não era essa a intenção.
O que eu queria saber é se a página te demora a abrir ou se dás com os videos ali ao lado
ehehe
pelo-me por problemas técnicos e inventei para aí umas geringonças que não devem servir para nada. Está tudo escondido debaixo do template.
olha minha linda o salazar espatifou-se aqui na borda da minha ribeira, sabias?
tal qual
pões-me etiquetas em que não me reconheço e ainda estou por saber se é despassaranço teu. ou abuso de identificação, ou assunto para eu pensar
mas agora já estou a caminho de ronronar
fica bem
ameaçado?
ahahahahahahahaha
È pá, eu não tenho o rei na barriga
“:O)))))
Ameçado há-de estar o mundo e o mais que eu faço é aproveitá-lo
“:O))))
Como se alguém me ameaçasse na vida. Levava logo um pontapé no cu que até andava à volta
ehehehe
Esta agora foi para rir.V.s os, anti-facistas contemporâneos deviam viver debaixo da cama no tempo da outra senhora, tal é o “respeitinho”.
ahahahahaha
tá bom, eu gosto de ti assim e logo se vê depois. Eu agora vou tropicalar já esta semana mas mas so mais no fim. Mas fico por lá espero pelo menos um mês
eu gosto do cocanha como é tal qual, mas achas que está ameaçado? eu acho que o facto é que ele existe
até lá estou a deixar tudo arrumadinho e já tou meio despassarado
outra coisa:
Eu não voto. Nem em sentido real ou figurado.
Não voto em nada, não tenho clubes, não tenho partido e o mais que faço é por me livrar de gangas ideológicas que por cá ainda possam andar.
Também não tenho causas. Isto é apenas por gosto, por gozo e “pour faire chier les cons”.
ó rapaz,
vamos a ser claros. Tu até disseste que nem sabes em que consiste o jacobinismo. Essa é logo a primeira questão.
A outra é básica. Este post conta uma tradição popular pagã e fala também de tradições religiosas e populares que ainda estão vivas.
Nas últimas linhas, em letra de cor mais clara, limitei-me a mandar uma boca. Dizendo que, para quem se sente muito incomodado com estas crendices, tem sempre a alternativa da novela televisiva.
O que há de “guerra em trincheira oposta” nisto?
Nada ou tudo, para aqueles que eu visei.
E esses são os que escrevem doutrinam e legislam (só não legislam mais porque ainda não conseguem) dizendo que a religião católica não passa de superstições e magias.
Foi para estes. Porque estes é que são os ignorantes que vendem a ideia que antes da Europa começar a cristianizar-se se vivia num paraíso racional e laico.
E mais, estes é que vendem a ideia que estas coisas são perniciosas porque a religião devia ser apenas algo do foro privado de cada um.
Porque defendem a imbecilidade da existência de uma socieade laica. Que não existe, a menos que queiram socieadades de robots.
Não há socieades laicas- o calendário religioso e as tradições populares demonstram-no.
E eu mostro também que até a própria religião se entrosou com este fundo vivo e popular e que é ele o grande legado da identidade de um povo.
Se não demonstro isto, gostava de o conseguir demonstrar.
Pelo menos calo filósofos idiotas com colunas nos jornais que nem isto sabem.
eu estou atento ao que dizes porque tem não sei quê que bate certo com uma minha preocupação difusa. mas deixa pra lá, porque tem tempo.
a geometria variável tomou conta dos opinion makers, não consegues estabelever uma hierarquia rígida a não ser numa só dimensão, já em duas tem que ser por classes de equivalência e etc.
portanto fazemos uma coisa juntos a modos que yin-yang? A zé e o david andavam vai que não vai à porrada, mas eram muito amigos, embora os livros já tenham ficado numa casa de uma vida anterior
mas realmente concordo que em questões práticas votamos em lados opostos.
Não te vendo paraíso nenhum e tenho horror ao social-fascismo, não percebo porque me vens com essas coisas. Gosto de liberdade, liberdade de encontro, liberdade de partir,liberdade de pensar, liberdade de dizer,
Outra coisa: tu és rijo e eu também sou, e é nesse entendimento de bravura que nos conseguimos dar.
Mas estamos em campos opostos, convém não esquecer
ehehe
ò py, eu nunca tive medo de coisa nenhuma, nem nos tempos em que muitos se acagaçavam porque podiam ser presos.
Por, isso, não se trata de medo nem de fantasias de liberdades mas de combates desiguais. Porque eu não sou Poder, não sou opinion maker de jornais nem faço leis ou participo em terraplanagens sociais.
Mas sou capaz de linkar aqui no Cocanha, muito Vital Moreira, Côncia ou frankenstoino de reino da macacada quando fazem demagogia para venderem isso mesmo: o jacobinismo. E, se for preciso, até vou ao Aspirina e desmonto as patacoadas do Rui Tavares, obrigando-o a fazer desmentido no jornal.
Estamos entendidos? não me venhas vender paraísos à custa de legados sociais fascistas
“:OP
(fora isso isto é por gosto e brincadeira de divulgação e quem se sente picado com as entrelinhas, ainda bem. Quer dizer que acertei)
mas estive ali a pensar e há uma coisa que não compreendo: então o teu blog é a prova provada, e bonita, de que é possível hoje ressuscitar as tradições esquecidas com um matiz postmoderno, mágico, e tens medo de quê?
eu sei que não tens medo de nada, escusas de ficar zangada, mas o que te preocupa?
eu caho que vivemos um espaço abençoado de liberdade hoje em dia, o que se me preocupa é que se é assim no lado primal, na outra face da moeda, no espaço dual, esconde-se um bicho temível, um minotauro orwelliano, mas confio que a força de muytos é imbatível
não há lutas inglórias se a causa for boa,
‘coloca a lei positiva acima da lei natural ‘ isto é um bom enunciado para colocar a questão, parece de Dama de Lorien, ou coisa assim élfica.
por agora honestamente não posso dizer grande coisa, mas concordo que a lei natural, ela própria multidimensional, está acima de uma qualquer pretensa dogmática sapiens.
Aí tens-me contigo, mas vou ter de estudar umas coisas, e não sei se tens paciênncia porque eu agora vou entrar num período de pachorrice prolongada, mas não deixo que te façam mal, aí venho de garras e caninos luzentes
beijos
Olá,
Olha uam coisa: demorou-te muito a abrir a página? é que tenho para ali tralha na barra lateral que é capaz de dificultar. Acho que ninguém sabe. São videos mas estão escondidos. Se calhar vou tirar parte.
O jacobinismo é uma questão política, não é uma questão de crença ou descrença. Não tem nada de pessoal. Podes encontrar a explicação na wikipédia ou noutro lugar qualquer em busca no Google. Acima de tudo é uma tradição da revolução francesa que coloca a lei positiva acima da lei natural e tende a atapetar as tradições e valores das socieades, em nome de um ideal ditado pelo Estado.
Claro que faz parte dos meus ódios de estimação, a par das cavalgaduras do asfalto e dos grafiteiros
“:OP
beijocas
(a crença e os sentimentos das pessoas não vêm ao caso- é mesmo uma questão política que agora começa a ficar desiquilibrada. Como eles estão no poder e são opinion makers nos jornais e eu apenas a zazie do cocanha, é uma luta inglória.)
só tu é que sabes contar estas histórias tão bonitas. Estas sempre a morder a canela do jacobinismo, eu ainda nem sei bem o que isso é, mas parece que foram uns tipos que acharam de repente que todos os males cabiam à igeja católica, certo?
não concordo com isso e vou levar a Arendt comigo para fora, por outras razões, mas também não vou tecer loas à igreja, excepto a propósito de ter continuado as festas pagãs, travestidas mas enfim,
além de dava uma mordidinha no Cristo e também gosto muito da Madalena